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Por que queremos ser virais?


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Tem uma pergunta que fica ecoando na minha cabeça há um tempo: por que a gente quer tanto ser visto?


Já percebeu como tudo parece girar em torno de aparecer? Ser lembrado. Viralizar. Entrar em alguma conversa. Viver no “hype” do momento. Só que tem um problema nisso tudo: a gente esquece que o “hype” é uma onda. E ondas passam.


O que sobra quando ninguém está olhando?

Freud dizia que viver em sociedade nos exige conter parte dos nossos desejos. E talvez seja por isso que, quanto mais a gente tenta se mostrar bem o tempo todo, mais exausto a gente fica por dentro. A cultura atual empurra a gente pra uma ideia de felicidade constante, de bem-estar sem pausa. Mas a verdade é que a vida não funciona assim.


Tem dias em que tudo que a gente quer é sumir. Mas aí vem o algoritmo e diz: "apareça mais."

E é aí que mora o dilema.


Você só sente que existe quando está sendo visto?

Na correria de querer estar no topo, a gente começa a medir nosso valor pelos números. Pela curtida, pelo engajamento, pela DM que não chegou. E sem perceber, nos colocamos numa vitrine. Uma performance atrás da outra. Uma nova tentativa de chamar atenção — nem sempre pelo que somos, mas pelo que achamos que os outros vão gostar.


O que Freud chamou de mal-estar, hoje a gente chama de ansiedade. É como se estivéssemos sempre devendo algo. Uma presença, um conteúdo novo, uma versão melhor de nós mesmos.

Mas o que acontece quando a maré baixa?


Ninguém quer viver no escuro e eu entendo

Tem algo de doloroso em sentir que não somos vistos. Que o outro não nos enxerga. E talvez seja por isso que a vontade de ser viral toque fundo em algo muito mais íntimo: o medo de não ser suficiente.


O problema é quando a gente tenta resolver isso com uma exposição que machuca mais do que cura. E eu não tô dizendo que visibilidade é ruim — ela pode ser um canal de expressão, de troca. Mas quando ela vira o único caminho possível pra sentir que estamos vivos, algo se perde.


A vida real não tem filtro nem cronograma.

A cultura da produtividade esmaga nosso tempo subjetivo. Aquele tempo interno que precisa de espaço pra sentir, elaborar, digerir. Hoje, até o luto tem prazo. Se você some das redes por uns dias, já acha que ficou pra trás. Que perdeu o momento. E, no fundo, o que a gente perdeu mesmo foi a permissão de não estar tudo bem o tempo todo.


A viralidade virou um lugar desejado porque é onde, por um instante, todo mundo te vê. Te escuta. Te valida. Mas será que você quer ser visto por todos — ou só se sentir aceito por alguém? Talvez a resposta não esteja em aparecer mais, mas em aparecer com verdade. Talvez o sucesso não seja sobre “hype”, mas sobre o que permanece quando ele passa.

E, principalmente: quem é você quando não precisa performar?


Será que nossa obsessão por viralizar não nasce de uma fuga? Uma tentativa inconsciente de buscar validação em quem está longe — porque ser rejeitado por quem está perto pode machucar demais? É mais fácil se frustrar com o silêncio de um “número” do que encarar o eco de alguém que te conhece.


Talvez, sem perceber, escolhemos o palco porque ele nos dá a ilusão de controle. Quanto mais distante o público, mais segura parece a nossa performance. Mas quanto mais alto o palco, mais solitária pode se tornar a queda.


 
 
 

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