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Em uma era de inteligência artificial, o que ainda nos torna únicos?

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Às vezes me pergunto se, nesse turbilhão tecnológico, não estamos nos perdendo na superficialidade.


Tenho pensado que, no futuro, talvez precisemos estudar exatamente isso: como evitar que a inteligência artificial nos torne genéricos.


Percebo (e muitas vezes me incluo) pessoas cada vez menos dispostas a buscar referências, explorar novas inspirações ou enfrentar seus dilemas de forma profunda, emocional e racional.


Queremos tudo rápido, imediato. Corremos para o ChatGPT e perguntamos: "Chat, resolve isso para mim!" E quando a resposta não nos agrada, dizemos: "Não, você entendeu errado." Mas e se, na verdade, quem não compreendeu fomos nós? Será que não estamos nos prejudicando ao terceirizar nosso pensamento?


Tenho receio de que estejamos caminhando para um vazio. Um vazio de ser, de estar, de formar e apresentar conclusões. Ocupados demais para refletir por conta própria, desprovidos de repertório, cultura e senso crítico. Temo que nos acostumemos a não aprofundar, a não sustentar dúvidas. E isso, no futuro, pode nos transformar numa geração superficial. Uma geração desconectada.


E aí, no meio desse cenário, surge uma contradição que me toca pessoalmente. Eu, leitora ao longo da vida, que cresci rodeada de livros e histórias, hoje hesito até em usar um simples travessão — com medo de que isso seja interpretado como sinal de que "não fui eu quem escreveu". Como se aplicar uma norma gramatical adotada por uma IA anulasse minha inteligência ou minha capacidade. Como se o uso do Chat invalidasse toda uma trajetória intelectual básica.


O mais curioso é que todos usam de alguma forma essa ferramenta, inclusive aqueles que criticam o uso do travessão. Mas, mesmo assim, ninguém quer consumir algo sabendo que não foi produzido integralmente por uma fonte humana. Irônico, não? Usamos, mas não queremos consumir conteúdos que denunciem o uso de um robô. Existe uma cobrança por autenticidade que, muitas vezes, beira a hipocrisia. Estamos utilizando, e ao mesmo tempo, julgando seu uso.


Sei que soa como clichê, mas algo que a inteligência artificial jamais poderá fazer por nós é construir relações genuínas. Só que — e aqui está a parte mais triste — parece que nem sabemos mais como fazer isso. É mais fácil se esconder nas respostas prontas de uma máquina do que enfrentar o desconforto das conexões humanas reais.


Não me entenda mal: o Chat é um excelente aliado no meu trabalho. Mas, no fundo, tenho medo da sutileza com que a dependência pode se instalar: Em mim, em você, em todos nós.

Lembro que, quando era criança, minha mãe comprava coleções inteiras de enciclopédias. Passávamos horas pesquisando, ampliando repertório, construindo raciocínios. Às vezes sinto saudade disso. Do esforço de pensar. Das horas mergulhada em livros, da paciência que nos ensinava a crescer.


Porque somos humanos. E precisamos de estímulos, de dedicação, de tempo para evoluir. É por isso que me pergunto: para onde vai uma geração que, tão cedo, se acomoda com o conforto da inteligência artificial?

 
 
 

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