Como o cansaço se tornou a nova emoção do momento
- Ana Bertoldo
- 5 de jun.
- 2 min de leitura

Eu não preciso de muitas coisas extraordinárias. Na real, minha vida já tem demandas demais, cansaços demais. O que eu preciso é daquilo que preencha os meus espaços – sem me pesar ainda mais. E se você parar pra pensar, é exatamente aí que as marcas estão aprendendo a vender.
O consumidor de hoje está sendo atropelado por tarefas, obrigações, expectativas. Uma rotina cronometrada, exigente, moldada por redes sociais que nos convencem de que ser produtivo o tempo todo é um sinal de sucesso. A vida se transformou numa maratona de listas e compromissos, e com isso surge uma demanda real por leveza, por pausas, por experiências que entreguem sensação de bem-estar.
Segundo o relatório “Consumidor do Futuro 2026”, da WGSN Insight, esses pequenos momentos de leveza emocional não são mais apenas um desejo — eles se tornaram uma necessidade prática e emocional. Eles moldam a forma como consumimos, o tipo de marca com quem nos conectamos e até o design de produtos e serviços que chamam nossa atenção. Neurocientificamente, esses instantes ativam o nervo vago, promovendo bem-estar, regulando os batimentos cardíacos e ajudando a reduzir o estresse — o que se torna ainda mais relevante em tempos de burnout, ansiedade e fadiga mental crônica.
As marcas, hoje, não vendem mais só status e luxo. Elas querem ser percebidas como uma extensão da vida do consumidor. Como uma amiga que entende. Uma facilitadora da rotina. Uma solução emocional em meio ao caos. Com 61% dos consumidores globais dizendo que desejam sentir emoções profundas, e 63% buscando experiências multissensoriais, a mensagem é clara: sentir virou um KPI emocional de valor.
Desde 2020, já se falava sobre a volta do conforto — um movimento em direção à segurança e ao aconchego na forma como consumimos. A pandemia, nesse cenário, marcou uma virada definitiva. Ela nos reposicionou como consumidores mais atentos, mais seletivos, mais sensíveis ao que realmente importa. Deixamos de buscar apenas acúmulo e começamos a priorizar presença: queremos experimentar com mais sentido, pausar sem culpa, respirar com mais calma e aproveitar com mais intenção o que a vida ainda nos oferece.
E algumas marcas já estão entendendo esse movimento. O Pinterest, por exemplo, registrou um aumento de 70% em buscas por “hotéis para staycation” e 60% por “vida tranquila”. No Reino Unido, a Self Space planeja levar sessões de terapia sob demanda para centros comerciais — tornando o cuidado emocional mais acessível. E no mundo corporativo, empresas como PayPal, Meta e Adobe já oferecem períodos sabáticos antecipados para suas equipes. Ou seja, até o mercado de trabalho começa a enxergar o valor dos microprazeres.
E aí entra a pergunta essencial: qual o papel da sua marca nisso tudo? Se você quer ser relevante nesse novo contexto, talvez o ponto de partida não seja fazer mais, mas fazer melhor. Melhorar os pontos de contato. Reler a jornada de consumo com empatia. Investigar de verdade as dores do seu público — e, principalmente, entender quais soluções práticas, simples e prazerosas você pode oferecer a quem está ali, exausto, buscando um respiro.
Os microprazeres não são pequenos. Eles são urgentes.
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