A aceleração da criatividade e o esgotamento invisível
- Ana Bertoldo
- 30 de abr.
- 2 min de leitura
Atualizado: 1 de mai.

Vivemos em um tempo marcado pela velocidade. A produtividade se tornou um valor central e, com ela, a criação passou a ser tratada como um processo linear e imediato. As ideias precisam surgir rápido, ganhar forma rápido e performar mais rápido ainda. A criatividade, antes respeitada como um processo sensível e orgânico, passou a ser comprimida dentro de cronogramas rígidos, exigências externas e métricas de desempenho.
Hoje, tudo é cíclico, descartável e urgente.
As tendências mudam semanalmente, os algoritmos cobram presença constante e os criadores — sejam profissionais ou não — se veem presos a uma lógica de produção que raramente considera o tempo necessário para pensar, amadurecer e experimentar.
Nesse cenário, é inevitável que surja uma pergunta incômoda: o quanto nós também somos responsáveis por essa aceleração?
Muitos de nós aceitamos, mesmo sem perceber, a lógica da urgência. Queremos acompanhar, ser vistos, estar sempre atualizados. Temos medo de “ficar para trás” ou sermos esquecidos. Para evitar isso, sacrificamos nossa saúde mental, ignoramos nossos limites cognitivos e forçamos a mente a operar em um ritmo que ela não sustenta por muito tempo. E quando ela falha — o que é natural — sentimos culpa, frustração e medo.
É claro que o contexto digital exige consistência e adaptação. Mas há uma diferença importante entre consistência e exaustão. Criar sob pressão constante não nos torna mais criativos — apenas mais reativos. E isso compromete a qualidade do que entregamos, a clareza do que queremos comunicar e, principalmente, o prazer em criar.
A verdade é que o cérebro humano não foi feito para processar ideias em velocidade máxima o tempo todo. A criatividade exige pausa, silêncio, observação e digestão. Ela não nasce do excesso, mas do espaço. É preciso permitir que os pensamentos se organizem, que as emoções se manifestem e que as ideias respirem antes de virarem conteúdo.
Por isso, é urgente repensar o modelo de criação ao qual estamos submetidos. Nem tudo precisa ser imediato. Nem toda ideia precisa virar post. Nem toda ausência é fracasso. Respeitar o tempo do nosso cérebro e o nosso próprio processo criativo não é um ato de resistência. É uma forma de continuar criando com verdade, sem perder a clareza, o prazer e a identidade no caminho.




Amei o texto Clara. Que venham muitos outros☺️
Texto excelente!
Ficou incrívell! Eu amei esse texto. ❤️
A urgência apaga a beleza de criar! Conteúdo necessário! 👏🏽